Fruitivas

Fruitivas: Seis da manhã

Um horário para continuar sonhando | por Silvia Regina
por Silvia Regina

 

Despertada de uma noite bem dormida, acordou sem sentir-se preguiçosa. Ouvia da janela um vento contínuo que uivava e uma chuva branda que caia.

Espreguiçou. Pensou no prazer da hora: tão cedo e tão tarde para os seus padrões. Ficou observando a luminosidade do quarto, escuro, mais ao mesmo tempo claro o suficiente para ver suas memórias do dia anterior bailando felizes, ainda, ali, no início do dia.

Eram doces as lembranças, arrochadas, cheiravam a vinho e palavras que nunca foram ditas. Eram dançantes, bastante trôpegas e engraçadas, oscilantes, desleixadas e úmidas.

Somente uma pergunta martelava sua testa: – O hálito da embriaguez carrega verdades ou mentiras?

Um trovão a estremeceu e a fez querer que toda a honestidade tivesse sido causada ali, naquele dia, pertencente a ela, vívido somente pelas picardias e os risos frouxos.

Aconchegada em suas boas sensações, virou para o lado e continuou atenta ao som da chuva, até voltar a dormir. Era tão cedo que sentiu-se no dever de continuar sonhando.

 

Sobre a autora
Silvia Regina de Jesus é doutoranda e mestra em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, graduada em Comunicação Social com ênfase em publicidade e propaganda e jornalista por opção. Além disso, pertence ao corpo editorial da Revista Nexi (Comunicação e semiótica/ PUC-SP) e é editora de Gostonomia,  escrevendo contos e reflexões sobre gosto: a capacidade de apreensão apreciativa da gente e das coisas. É autora de A sensibilidade inteligível do chocolate: uma análise do fazer estésico apreendido, cultivado e comunicado, dissertação encontrada em: Domínio Público.gov.br.[ http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=167688] / editoria@gostonomia.com.br

2 comentários

  1. 6h da manhã é hora de dormir, mesmo. E acredito que bêbados feliz ou infelizmente acabam falando a verdade. Leio todos os seus contos.

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