Editorial

Sem crise do gosto

Nestes tempos de perguntas que parecem tão mal formuladas, acusações sem provas, respostas convenientes, pouco convincentes, manipulação de informações, pedantismos e ignorâncias, o cultivo dos gostos tende a estacionar. De um lado essa realidade ficcional, que de tão repetida se confunde com a verdade; do outro; a ficção realizando, ainda que de maneira falsa, as meias verdades fotografadas, filtrada por desejos e sonhos, tudo exibindo-se nas redes sociais.

Mas o gosto é honesto. É gostoso pensar que ainda é possível cultivá-lo, testá-lo e descobri-lo; harmonizá-lo desarmonizando-o com todo tipo de frivolidade, cruamente, a contrapelo, sem pudor.

Dedicar atenção a ele é dispor de tempo a si, ao outro, àquilo que realmente interessa. É dar o peso devido às demandas vendidas como máximas ou como valores gerais. O nulo ou quase isso. É apaziguar o desejo por mais, por melhor, pelo refinamento dos indivíduos redescobertos na conjunção, na contiguidade ou na justaposição.

Os gostos não traem, surpreendem, distraem. Por isso, dar valor a eles é alongar os conhecimentos e os bons afetos. Todos compartilháveis, sem mesquinharias. Que sejam dados a eles mais alguns deleitáveis momentos, então. Sem frescura. Sem crise e com a responsabilidade de aprazer e fruir, enquanto possível for.